sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

solitário...(Bay Market)


Um comentário:

João disse...

De Elisa Lucinda
Tatame


Cá estou para uma guerra inesperada
e dificil: lutar contra o meu amor,
o amor que eu sinto.
Puta que pariu!
Civil, despreparada
e desprovida de armas, pareço perder
de cara a empreitada.
Levanto da primeira derrubada
e o bicho já me golpeia certo no
diapasão; justamente o afinador dos fracos,
a bússola sonora
dos instrumentos de canção.
Me emudece, me desafina
ceifa rente meu braço de poema, e,
manca dele, procuro ainda alguma proteção.
Mais um golpe, estou no chão.
O amor caçoa então: quer morrer, danada, não vai lutar não?
Com o bico da chuteira da mágoa
desfiro-lhe dois golpes seguidos no queixo.
O amor ri: não doeu, nem senti!
Irada, engancho minhas pernas em seu
pescoço, tento as tesouras imobilizantes
que copiei das lutas da televisão.
(Que nunca gostei, será que prestei a devida atenção?)
O amor interpreta mal...
Ah, quer me seduzir? Enforcar, que é bom, não?
Eu nada falava, torcia pernas, me esgotava,
fremindo-lhe a cabeça entre as coxas.
Isto pra mim é trepada, boba!
Eu gosto do aperto, do cheiro da roxa
e de te ver roxa.
E gargalhava.
Cansada, humilhada e sem
munição, desmaio e me entrego:
pode me matar, amor
eu estou na sua mão.
O amor me olha de cima então:
querida minha, eis o segredo da esfinge
eis o problema diante da solução:
matar-te é matar-me
e matar-me é matar-te.

Se no chão do amor estava,
nesse chão continuei então.
Deitada sob o amor,
debaixo do amor,
no ringue do amor,
o amor me beijou,
me beijou, me beijou.

9 de Abril de 2005